Há sempre oportunidade para
mentir, e quando um político mente é para se eleger. O Brasil, como sempre,
abriu a rodada de discursos na 68º Assembleia da ONU na terça-feira, em 24 de
Setembro. Cheia de pompa e confiança, Dilma falou muito dizendo pouco e menores
foram as verdades.
Além
de pingar formalidade forçada com, segundo suas palavras, "uma nação
amiga" - nação esta que, comprovadamente, espionou a própria presidência e
setores econômicos cruciais e nunca escondeu ter objetivos econômicos
antagônicos a qualquer economia emergente - a presidente usou seu lindo
discurso para enaltecer as conquistas reformistas brasileiras. Porém, ao mesmo
tempo em que preza a privacidade de sua própria equipe de conselheiros e
ministros e de empresas brasileiras aproveitou a viagem ao bastião do
capitalismo financeiro para fazer marketing de privatização - sim, privatização
e não concessão - de estradas, ferrovias, portos, aeroportos e, olhem só!,
campos de petróleo. Sendo que a Petrobrás foi um alvo estratégico da espionagem
americana. Onde está a congruência em exigir a privacidade de setores
econômicos importantes e embrulhar nossas maiores riquezas e privatizá-las a
preço de banana para empresas estadunidenses, que muito provavelmente foram
beneficiadas com a espionagem dos EUA?
Junto
a isso estão as sugestões puramente normativas da presidente para resolver o
problema da espionagem. Suas sugestões esperam demais da ONU, que sabemos que
não fará coisa nenhuma, e estampam seu gosto aos "estímulos ao setor
privado". E ela nem por um momento considerou a estatização das
comunicações brasileiras para controlar e proteger o tráfego de dados
brasileiros, somado a isso está o péssimo investimento em tecnologia e defesa
internacional militar. E se dá por satisfeita com os míseros royalties dos
barris de petróleo para a educação e saúde. E esse dinheiro ainda será aplicado
em um fundo financeiro, sujeito a oscilações especulativas de um capitalismo
podre e em crise.
Uma
das poucas coisas aproveitáveis de seu discurso foi a evidente estratégia de
barganhar um assento permanente no Conselho de Segurança e a crítica, ao mesmo
conselho, sobre a questão palestina (embora com pouca ênfase).
O
Brasil está tão perto de garantir sua soberania econômica, militar e
comunicativa realizando privatizações de poços petróleo, permanecendo com o
setor de comunicações totalmente desregulado e com agentes estadunidenses
influenciando livremente as ações da polícia federal quanto a ONU está de
acatar das gentis sugestões da presidenta Dilma para descentralizar as
comunicações internacionais.
- Lucas Carvalho