sexta-feira, 10 de maio de 2013

Sobre a visão da classe trabalhadora brasileira

Nos últimos anos, o Brasil vem crescendo, é um dos lideres dos países emergentes, tanto que já não é mais chamado pelos economistas de país sub-desenvolvido, e sim de "país em desenvolvimento". O atual objetivo dos governantes brasileiros é transformar o país em uma potência capitalista, e para isso se vê obrigado em investir numa parte da classe trabalhadora brasileira, a parte superior, a "nata" do proletariado, digamos assim, que são as pessoas com formação técnica especializada, e que por isso tem salários acima da média do restante da população.

Com o crescimento, de quebra, temos mais empregos, uma "ascensão" das camadas superiores dos trabalhadores, mais infraestrutura, "melhores" salários, facilidades de consumo, etc.. Isso ajuda ao nosso atual governo de caráter burguês, vender seu peixe de "inclusão social" e se perpetuar no poder, iludindo a população. Esse é o investimento, é impossível que o Brasil cresça sem uma massa de pessoas com o mínimo de capacidade de consumo e conforto, isso não quer dizer que a população brasileira tem ótimos níveis de escolaridade, técnica, saúde, conforto, consumo, etc.. Essa massa que hoje usufrui desses benefícios é uma porcentagem reduzida da população, isso cria a ilusão na casta mais baixa de que o sistema é bom, e que se nos esforçarmos, estudarmos bastante, nos formarmos, etc., faremos parte dessa casta que usufruíra do crescimento econômico, fazendo assim com que a classe trabalhadora perca sua identidade, hoje o termo "proletário" ou "operário" soa pra as pessoas como ofensa, elas recusam a se enxergar como exploradas e excluídas, e cada dia que passa acreditam mais e mais na "meritocracia", aonde aqueles que merecem e se esforçam conseguirão atingir um patamar elevado.

Isso não só prejudica a união da classe trabalhadora brasileira, mas também desvia sua atenção dos problemas e contradições do capitalismo, fazendo-os acreditar que os mais pobres estão nessa condição por que não batalharam o suficiente e não mereceram. Mas o povo esquece que há gerações eles batalham, trabalham horas por dia, e continuam na mesma condição.

Outro sintoma do crescimento econômico, e que fomenta a ilusão da classe trabalhadora, são as pequenas melhorias que alguns conseguem, como por exemplo, o carro novo que se compra, a geladeira paga em mil prestações, a TV de plasma de ultima geração, isso os faz pensar que estão numa situação financeira favorável, os faz acreditar que agora são parte da tão sonhada "classe média", então se acomodam numa zona de conforto tão grande, que esquecem que trabalham 5 ou 6 dias por semana pra ganhar um salário que será penhorado no dia seguinte, para pagar dívidas causadas por essa mania de consumo, e que fará falta na hora da aquisição de itens mais básicos.

Não vejo mais as pessoas comuns exercendo a luta de classes, elas não veem o patrão como antagonista, elas veem o patrão como modelo a ser seguido, alimentam a esperança do dia que elas serão o patrão. Não querem mudar o sistema, querem crescer na carreira e ficar ricos, então acham que quanto mais se esforçarem, mais perto estarão do objetivo, pra alguns pode ser até verdade, mas e para o resto? É claro que existem aqueles que não se iludem, simplesmente vão junto com a maré, mas ainda são muito passivos com a situação, e essa passividade é um grande problema. O Brasil passou sem muitos transtornos pela ultima crise do sistema capitalista, embora o crescimento tenha diminuído e continue diminuindo, nós não passamos pela mesma onda de desemprego e caos financeiro que os países europeus, e isso contribuiu para fortificar a névoa que hoje cega a classe trabalhadora no Brasil, fazendo com que se acredite que o sistema aqui é eficaz.

Acredito que os estadistas brasileiros acharam a formula do "capitalismo perfeito" jogando a classe trabalhadora num torpor, numa ilusão sem precedentes, e o pior é que no fundo o trabalhador comum sabe que é tudo mentira, que o sistema é parasitário, que o patrão o explora, mas continua se agarrando na cultura mesquinha a qual são expostas desde cedo.

É preciso que a esquerda brasileira se una e perceba de que a nossa luta prioritária atual deve ser pelo despertar da população, tirar-lhes desse sonho que os cega e atrapalha a conquista do objetivo comum, que é o fim do sistema exploratório capitalista. É importante que os nossos movimentos cheguem e agitem a população comum, que hoje vive numa apatia sem fim, e para isso nós precisamos cessar as disputas políticas dentro do nosso próprio movimento e trabalhar juntos pelo mesmo objetivo.

- Daniel Santos Mont’Serraint