— Polícia militar emergência.
— Preciso de ajuda! (aos berros!)
— Correto, senhora. Tente se acalmar e me conte o
que houve (não sei porque insisto nisso...como se fosse fácil "se
acalmar" nesse tipo de situação, mas enfim...).
— Meu namorado me agrediu, me bateu, jogou para
fora do meu apartamento e não me deixa entrar, me cortou o cabelo... Preciso de
uma polícia aqui (aos choros).
— Entendo. Qual seu nome senhora? Para eu colocar
na ocorrência.
— Meu nome? (nervosa e constrangida)
— Sim, para eu colocar na descrição...para quando
os policiais chegarem eles procurarem por você...
— Eh...que bem... tipo...
— Calma senhora, só estou perguntando seu nome.
— Eh...que ...que....meu nome é Roberto...eu sou
trans*...(totalmente constrangida)
— Não há nada de errado nisso. Mas qual seu nome?
— Roberto... (constrangida)
— Não...eu perguntei qual seu nome....(neste ponto
eu entendi porque teve o cabelo cortado)
— Como assim? (surpresa)
— Eu perguntei seu nome, não da sua identidade.
Seu nome real, aquele que você quer ser chamada assim que a equipe chegar.
— Bruna.....meu nome é Bruna....(muito surpresa)
— Correto, Bruna. Registrei aqui seu nome. Agora
deixe-me pegar os demais dados da ocorrência."
Dali para frente se acalmou. Dentro do que era
possível se acalmar. Pensei então em como funciona basicamente a violência: A
agressão não é apenas física, aquilo que o corpo sente na pele, mas sobretudo
pode ser tão ou mais pérfida quando atinge o âmago do ser.
Nunca saberei se Bruna foi agredida por ser Bruna
ou por ter nascido Roberto, naquela situação específica.
Mas superando esta agressão, quando é que Bruna
deixará de ser agredida apenas por ser...ela mesma?
- Eduardo Ribeiro dos Santos