Oh macabro
reino da incompreensão.
Salão surdo de
muda canção.
Tumba viva de
homens mortos. Vivos.Tortos.
Culpado.
Inocente. Tanto faz. A grade é indiferente.
Mas lá a
dignidade se faz pão. Oh pão! Alimenta! alimenta essa alma cansada.
Despida.
Irada. Jamais prostrada.
Alimenta
dignidade, com seu pão. A barriga gestante da liberdade."
Comecei a escrever esses versos pela manhã. Não
sei ao certo porque comecei, mas quis terminá-los. E terminei. Senti vontade de
escrever sobre a prisão. Não sou religioso. Mas escrevi sobre meu destino.
Hoje saiu o resultado do último recurso do
processo administrativo ao qual estou submetido. Meu recurso foi negado. A punição
de dois dias detido disciplinarmente se manteve. Começo o cumprimento na
segunda feira.
Estou sendo punido porque durante as manifestações
do junho passado estava a paisana erguendo um cartaz que dizia:
SOU PM, SOU
FARDADO, E TAMBÉM SOU EXPLORADO!
Perderei dois dias de vida por isso. Convenhamos.
Saiu barato. Alguns sofreram hematomas, outros intoxicação por gás, olhos
feridos ou perdidos, cortes profundos, até mesmo perderam a vida. O que perco é
pouco ou nada diante disso. Mas nos vejo no mesmo barco. Todos nós, de uma
maneira ou de outra, perdemos cada qual um tanto de Dignidade.
A Dignidade da Pessoa Humana, pedra basilar que forma nosso Estado que teima em se chamar Democrático e mais ainda de Direito.
E é em nome dos que perderam mais que eu, que não
irei desistir. É em nome da Dignidade na qual que acredito que continuarei
seguindo. Por mais que me fechem as portas. Só preciso de uma fresta de luz. E
sendo assim tenho até domingo para entregar à Justiça meu Habeas Corpus. Não
importa o resultado. Se será aceito ou se será negado. Eu já ganhei. Porque me
levantei, caminhei e principalmente gritei quando muitos escolheram calar.
- Eduardo Ribeiro dos Santos