Nota do Autor: O texto foi produzido originalmente para uma
atividade acadêmica do curso de História da Universidade Federal de Pernambuco.
Chega a fazer menções a Gordon Childe, arqueólogo de influência
marxista, e suas contribuições para o estudo da Pré-história com base nos
estágios econômicos das sociedades primitivas, mas não faz referências muito “gritantes”
e “escancaradas” ao marxismo, e aos marxistas neste campo, por se tratar justamente
de um texto voltado a uma atividade específica de uma cadeira do curso.
Gordon Childe, arqueólogo de inspirações marxistas. |
Para responder a pergunta sobre qual a importância da arqueologia em
relação ao estudo do período pré-histórico, temos que demarcar bem o que deve
ser entendido não somente como pré-história, mas mais ainda o que é definido
como Arqueologia. Há muita confusão
quanto ao o que é arqueologia, e a sua importância geral dela para a História. Muitos indivíduos tendem a
acreditar que a arqueologia é uma mera disciplina auxiliar da História. Muitos
que estão a adentrar na academia como historiadores também carregam um pouco
deste “preconceito”.
A partir dos princípios de interdisciplinaridade, a disciplina científica
da Arqueologia tem o mérito de muitos conhecimentos sobre a História da
sociedade humana. A Arqueologia em muito ajudou a história. No entanto, a Arqueologia
já ascendeu a um status de disciplina científica em si, e não uma mera
disciplina auxiliar dos historiadores.
O que é então a Arqueologia? É a disciplina que estuda as sociedades
antigas a partir das análises de vestígios materiais, onde estuda as sociedades
humanas já extintas a partir de objetos móveis ou imóveis (estruturas de
arquitetura da antiguidade, por exemplo), ou mesmo a partir da intervenção das
sociedades humanas extintas no meio ambiente.
As vezes essas definições, no nosso imaginário, pode esbarrar vez ou
outra no papel dos próprios historiadores. Mas acontece que os historiadores
buscam entender mais o desenvolver da sociedade humana, entender as leis de
desenvolvimento dessa sociedade, realizar pesquisas de documentos, arquivos, relatos
escritos e orais, de sociedades que até tenham uma “presença no passado”, mas
que não necessariamente já foram extintas.
A História engloba um campo mais geral do desenvolvimento da sociedade
humana, a Arqueologia engloba um tipo de estudo mais específico para sociedades
humanas mais específicas (isso é, para as que foram extintas).
Daí, a partir da compreensão desses pontos, podemos começar a entender de
fato a importância da Arqueologia para a História e, sobretudo, para a Pré-história,
um período histórico que contempla, na prática, somente humanas sociedades
extintas.
Os historiadores podem hoje se debruçar sobre vários temas referentes o
modo de viver nas sociedades primitivas. Podemos observar certa proximidade,
por exemplo, entre comunidades primitivas de diferentes tempos; isso é, podem
ser cronologicamente distantes, mas estão num estágio de desenvolvimento que
possuem semelhantes modos de vida. Podemos estudar as diferenças mais marcantes
das sociedades antes e depois da “Revolução Neolítica”. Podemos inclusive
pesquisar o progresso histórico dessas sociedades e a partir dessas pesquisas
traçamos uma linha para identificarmos uma lei de desenvolvimento histórico
nestas sociedades, ou mesmo, se não precisa ser descoberta “uma nova lei” de
desenvolvimento histórico.
Os historiadores muito podem fazer ao se debruçar sobre as sociedades
primitivas. Contudo, para isso, se faz muito necessário o trabalho dos
arqueólogos. A disciplina científica da Arqueologia é a que, no meio acadêmico,
tem bases materiais mais consolidadas para validar qualquer outro estudo,
inclusive, históricos. E para historiadores que seguem correntes históricas que
dão importância a essa “base material” como a linha “materialista” (mais
conhecida como marxista), por exemplo, isso é um tanto quanto necessário.
Por exemplo, podemos citar o ilustre arqueólogo Gordon Childe. Sem o espetacular trabalho de Gordon Childe, muito
do que concebemos hoje na História (em relação a pré-história) seria colocado
de uma maneira completamente diferente. A classificação, isso é, a “divisão”
que temos dos “estágios” da Pré-história em Paleolítico, Neolítico, e o
conceito de “Revolução Urbana”, foi algo não plenamente inventado, mas
consolidado, pelo arqueólogo Gordon Childe.
Childe, com base nos seus estudos arqueológicos que lhe davam uma base
sob os “padrões” comuns na economia coletiva em determinado estágio de
desenvolvimento da comunidade primitiva (com estudos realizados a partir dos
artefatos), soldou uma nova síntese de períodos econômicos da Pré-história.
Contudo, Gordo Childe é só um entre tantos. Houve no meio acadêmico entre
os arqueólogos outros grandes nomes também, que colocaram a Arqueologia nesse
patamar de importância em relação a ciência histórica, sobretudo no que compete
a Pré-história. E é esse importante trabalho que coloca a Arqueologia como uma
disciplina científica que tem o seu valor, e não uma mera disciplina auxiliar a
reboque da ciência histórica.
Isso é, basicamente um resumo (ou mesmo uma introdução) do motivo pelo
qual a disciplina científica da Arqueologia é tão importante para a ciência
histórica, e repetindo: sobretudo para a Pré-história.