O nacionalismo é, resumidamente,
o sentimento de devoção e dedicação, disposição e respeito à nação, não somente
ao povo que a constituí, mas a toda a instituição nacional e o denominado
Estado nacional. O nacionalismo influencia diretamente na política das nações
do mundo; de forma geral, se expressa como nacionalista um governo ou Estado
cujo luta sempre em defesa dos interesses nacionais, da nação e dos povos que a
forma.
As expressões ideológicas do Nacionalismo: o nacionalismo burguês e o
nacionalismo antiimperialista-revolucionário
O Nacionalismo se expressa de duas formas
ideológicas antagônicas: o nacionalismo das grandes potências e o nacionalismo
das nações exploradas. Ambas as formas ideológicas do nacionalismo têm as
mesmas características: se expressa na luta pela defesa dos interesses da
nação. Entretanto, na forma do nacionalismo das grandes potências, o chamado
nacionalismo burguês, esse sentimento e essa política de luta pelos interesses
da nação é utilizado como justificativa ideológica para espoliar, dominar e
controlar os outros povos e as nações menos desenvolvidas economicamente. Para o caso das grandes potências, o
nacionalismo burguês é um empecilho ideológico para a luta internacional
antiimperialista; nesse termo, é uma ideologia que merece ser esmagada, por
todas as forças, enquanto houver o capital estrangeiro dominando os povos do
mundo. Exemplos de regimes nacionalistas burgueses, regado de sentimento de
superioridade étnica e de ufanismo e chauvinismo, foram: o fascismo italiano de
Mussolini e o regime nazista de Adolf Hitler. Ambos eram nacionalismos
burgueses e seu conteúdo era reacionário porque era nacionalismo de grandes
potências e imperialistas. Nesses dois casos, o nacionalismo só poderia ser
burguês, chauvinista e ufanista, para justificar e intensificar a marcha contra
outros países imperialistas (para definir quem controlaria mais os povos do
mundo). Outro exemplo atual é o nacionalismo norte-americano, que é um
nacionalismo estritamente burguês, que se expressa como ideologia somente para
respaldar as guerras imperialistas que os Estados Unidos sustentam pelo mundo,
além de ser utilizado para justificar a dominação das nações menos
desenvolvidas (como o próprio Brasil e a América Latina) pelos Estados Unidos.
Em contrapartida, o nacionalismo
das nações controladas e dominadas, o chamado nacionalismo revolucionário ou
nacionalismo antiimperialista, vem para contrariar as concepções ufanistas e
chauvinistas do nacionalismo burguês.
O nacionalismo revolucionário
surge quando o imperialismo passa a dominar e explorar sem a mínima cerimônia
uma nação pouco desenvolvida economicamente, com uma indústria frágil e sem
muito desenvolvimento de sua burguesia nacional. Quando essa dominação, opressão
e exploração se tornam sufocadora, o imperialismo (que é movido pelo
nacionalismo burguês) passa automaticamente a anular e negar todos os interesses
nacionais da nação explorada, ou seja, passa a negar a este povo o direito de
ser uma nação; passa a negar o direito a poder e soberania nacional. É
exatamente nesse momento que o sentimento nacionalista e patriótico, nessa
nação, passa a ser muito mais presente e de forma revolucionária: o
nacionalismo nesse caso passa a ir contra o imperialismo e entende que isso só
é possível com um enfrentamento direto; ele passa a ir contra o nacionalismo
burguês e, por isso, passa a ser antiimperialista revolucionário.
O nacionalismo antiimperialista é
revolucionário porque busca, por meio de uma luta nacional, derrubar a
dominação imperialista (ou de uma única nação imperialista) sob determinada
nação menos desenvolvida – ou seja, o nacionalismo antiimperialista vai de
encontro e diretamente contra o nacionalismo burguês, ele busca o direito de um
povo a sua soberania nacional.
A luta nacionalista revolucionária
contra a dominação imperialista foi historicamente vitoriosa e poderosa sob uma
óptica antiimperialista. As revoluções da China, Vietnã, Coréia, Argélia,
Moçambique, Angola, Cuba e ademais, foram revoluções nacionalistas ou movidas
incessantemente por um sentimento patriótico e nacionalista revolucionário (porque
eram nações totalmente dominadas e saqueadas por uma força imperialista), e
impuseram duros golpes ao imperialismo da época. Algumas dessas nações
inclusive, após expulsarem o imperialismo das entranhas da nação e construírem
uma pátria politicamente livre, se consolidaram socialistas em seguida, mas sem
abandonar o sentimento nacionalista e patriótico, sendo estes poderosos
instrumentos de defesa dos interesses da pátria nos momentos de tensão militar
contra o imperialismo (como a Invasão
da Baía dos Porcos, em Cuba).
Temos também as lutas nacionalistas
que não triunfaram em revolução, mas ainda sim perturbaram os interesses do imperialismo, lutas contra o nacionalismo
burguês. O Partido dos Panteras Negras pela Autodefesa foi um Partido negro que
exaltava a cultura africana, as características étnicas do povo negro que vivia
nos Estados Unidos, se caracterizando nacionalistas, enquanto eram
revolucionários pois eram socialistas, portanto, antiimperialistas e de
encontro com o nacionalismo burguês (segundo o próprio Huey
Newton, co-fundador dos Panteras Negras). Não somente, as lutas por
libertação nacional da Palestina, Iraque e todos os países massacrados pelos Estados de Israel e Estados Unidos no oriente médio são lutas nacionalistas, pautadas no nacionalismo.
A história do nacionalismo brasileiro: as pautas nacionalistas no
Brasil (1930-1964)
Antes de qualquer resenha ser
feita sobre a história do nacionalismo brasileiro e das pautas historicamente
nacionalistas de nossa pátria, há de entender, de uma vez por todas, à força,
que o nacionalismo se expressa politicamente, e somente assim, pela defesa
dos interesses nacionais a todo custo – excluindo, portanto, o governo
militar de 64 e os ademais que traíram o Brasil e o povo brasileiro em conluio
com o imperialismo norte-americano.
O nacionalismo no Brasil trás consigo
uma imensa carga histórica antiimperialista, assim como é visto por setores da
esquerda de forma extremamente negativa. É visto de forma negativa não pelo
conteúdo real do nacionalismo no Brasil, mas por ter sido o termo
“nacionalismo” usado [sem nenhum conteúdo prático verdadeiramente nacionalista]
para sustentar politicamente governos antinacionais e vende-pátria.
Muitas das pautas progressistas
de nossa história, assim como os movimentos populares, tinham imagem e reivindicações
nacionalistas. A campanha pelo monopólio estatal do petróleo, as reformas de
base de Jango, a campanha por não assinar os acordos-militares com os Estados
Unidos, a campanha contra a FMI, a campanha pelo não pagamento da dívida
externa e controle das remessas de lucros para o capital estrangeiro: são todas
essas pautas nacionalistas de nossa história! Ser chamado de nacionalista nesse
momento da história do Brasil era ser considerado semelhantemente de esquerda, ser
reconhecido como um indivíduo que visava à libertação da sua nação e do seu
povo frente à dominação do capital estrangeiro.
Mas, as pautas nacionalistas
brasileiras não se limitaram a campanhas populares, mas também a movimentos
revolucionários antes mesmo da ditadura militar de 64. Os movimentos
revolucionários da história do Brasil, tanto quanto na América Latina,
levantavam bem alto a bandeira do patriotismo e nacionalismo revolucionário. A Aliança
Nacional Libertadora (ANL), dentre 1935 e 1937, foi uma organização
revolucionária que pautava reivindicações nacionalistas. A ANL era alinhada com
o PCB (Partido Comunista do Brasil) e durante seu tempo de atuação, pautou a
revolução nacional-libertadora (uma revolução por suas pautas, nacionalista).
Levante de 35 iniciado em Olinda (PE). |
Entre
suas ações e agitações na sociedade brasileira, a ALN, em 1935, junto com o
alas e setores verdadeiramente nacionalistas do Exército Brasileiro, tentou
tomar o poder no Brasil por meio de uma ação militar (conhecida como “Levante
Vermelho de 35”
ou, como fora apelidado pejorativamente: “Intentona
Comunista”) e reivindicava a nacionalização do capital estrangeiro
empregado no Brasil, à reforma agrária e a proteção para os pequenos e médios
proprietários e conquistar o poder com um Governo nacional e popular. Contando
com apoio militar de setores nacionalistas do Exército Brasileiro, os militares
de baixa patente e os revolucionários da ANL, nessa ocasião, organizaram um
Levante dentro do Exército, com pautas que colocariam em xeque o poder do
imperialismo norte-americano sob o Brasil e dariam soberania nacional e
autodeterminação ao povo brasileiro, ou seja, pautas nacionalistas e
revolucionárias.
Assim prosseguiu a marcha dos
movimentos revolucionários no Brasil, sempre em conjunto com as pautas
nacionalistas, até 1961, quando chega ao governo João Goulart, visto como um
presidente progressista pela esquerda – automaticamente, alinhado com as pautas
nacionalistas da época.
Reivindicações nacionalistas e João Goulart
Quando João Goulart chega ao
poder em 1961, propõe algumas reformas na sociedade brasileira, conhecidas como
“reformas de base”. As reformas de base, uma das pautas nacionalistas da
história do Brasil, mobilizaram todo o país à seu favor, pois como foi dito,
era uma pauta nacionalista que transferiria um poderoso golpe no imperialismo
norte-americano, daria maior soberania nacional ao Brasil e ao povo brasileiro.
Quando se propõe as reformas de
base, o imperialismo norte-americano e a elite latifundiária brasileira, forças que dominavam e ainda dominam o Brasil,
obviamente não aceitaram as reformas e mobilizam um golpe de Estado. Por influência
e financiamento deste imperialismo norte-americano, com conluio com a elite brasileira que mais traí seu povo (o latifúndio), conquistou apoio do alto
escalão reacionário e traidor do Exército Brasileiro e, assim, empreenderam um golpe de
Estado no governo democrático de Jango, que preferiu fugir do que resistir. É
nesse momento da história que o termo “nacionalismo” passará a ser falsamente
pregado por setores reacionários do Brasil.
A Ditadura Militar e o falso nacionalismo
Nesse momento, o termo
“nacionalismo” foi utilizado pelo grande escalão do Exército para conquistar as
bases do Exército que tinham ideias mais progressistas e nacionalistas, pois se
tinha o receio de que alguns batalhões do Exército fossem contra o golpe e
resistissem contra o alto escalão fascista do Exército pelo passado de revoltas
dentro do Exército (como o próprio Levante de 35). Mesmo com o Alto Escalão do
Exército utilizando os termos nacionalismo para conquistar essas bases, vários
batalhões verdadeiramente patrióticos e progressistas do Exército não
participaram do golpe e, contrário ao golpe, se mostraram dispostos a resistir militarmente
caso assim quisesse o então presidente Jango, que preferiu fugir.
Após dar o golpe de Estado e
vender a soberania nacional do Brasil para os Estados Unidos, o Governo militar
continua se apoiando falsamente no termo “nacionalismo” para que o Exército
continuasse apoiando o regime. O regime militar de 1964, que somente se apoiou ao
termo nacionalismo para ter apoio dos setores do Exército Brasileiro, na
verdade vendia cada vez mais a soberania e a pátria brasileira – ou seja,
nunca, em nenhum momento, foi um regime nacionalista, e a esquerda que assim
diz contribui com a mentira do imperialismo norte-americano sobre a história do
Brasil. O regime militar foi um regime antinacional que se passava por
nacionalista somente para ter apoio e controle das bases do Exército Brasileiro
– e foi nesse momento da história que o Alto Escalão do Exército intensificava
a lavagem ideológica nos soldados do Exército para que não existissem mais
revoltas e levantes contra o imperialismo; alem disso, muitos oficiais
progressistas e verdadeiramente nacionalistas e patrióticos foram expulsos do
Exército para diminuir a influência do verdadeiro nacionalismo brasileiro: o
nacionalismo antiimperialista, revolucionário.
Em síntese, o regime militar de
64 foi traidor, foi antinacional, vendeu a pátria e por isso não pode o
caracterizar como nacionalista. Levantaram a falsa bandeira do nacionalismo
para se passar por “patriotas preocupados com a pátria”, quando eles foram o
contrário disso: venderam a pátria.
A resistência ao golpe e a bandeira do nacionalismo
Mesmo após o regime militar de
1964 terem se apropriar do termo “nacionalismo” enquanto vendia a pátria
brasileira para os Estados Unidos, os movimentos de resistência armada ao golpe
militar continuavam a levantar a bandeira antiimperialista com pautas
nacionalistas. Entre as organizações que levantavam a bandeira do nacionalismo
revolucionário contra a dominação do capital estrangeiro, estavam o Movimento
Nacionalista Revolucionário (MNR – formado majoritariamente por militares
verdadeiramente nacionalistas e patriotas), o Comando de Libertação Nacional (COLINA),
a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), a Vanguarda Armada Revolucionária
(VAR-Palmares), o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), a Ação
Libertadora Nacional (ALN), entre outras.
Essas organizações, não só
utilizavam as mesmas pautas antiimperialistas e nacionalistas que reivindicavam
os movimentos nacionalistas e revolucionários de 1930, mas, como a elevavam a
um grau superior e extremamente ousado, de grande visão política: utilizavam o
verdadeiro nacionalismo brasileiro, que é revolucionário, para combater
ideologicamente o falso e vazio termo “nacionalismo” que utilizava o governo
antinacional de 64. Foi uma forma muito inteligente por qual tais organizações bateram
ideologicamente no regime militar, expuseram a verdadeira face vende-pátria do
regime de 64 para os segmentos patrióticos e nacionalistas da sociedade
brasileira – e não à toa, nas guerrilhas pelo Brasil estavam repletas de
militares do lado revolucionário (vide Carlos Lamarca, capitão do Exército que
se tornou símbolo e comandante da luta contra a ditadura). Isso indica e
evidencia a capacidade que teve o patriotismo e o nacionalismo para mover a
sociedade brasileira, de forma revolucionária e numa visão antiimperialista,
contra inimigos antinacionais que se passava por nacionalistas.
O papel do nacionalismo brasileiro atualmente
Fica claro que, ao analisar a
história do Brasil e dos movimentos da esquerda, que o nacionalismo no Brasil é
de caráter antiimperialista e revolucionário, que é antagônico e marcha contra
a dominação imperialista norte-americana no Brasil, portanto, vai contra o
nacionalismo burguês. Partindo disso, a esquerda brasileira verdadeiramente
revolucionária, assim como os setores progressistas da sociedade brasileira,
não deve cair na armadilha historicamente preparada que é negar todo e qualquer
caráter antiimperialista do patriotismo e nacionalismo brasileiro – negar a
este segmento político um espaço na revolução brasileira é cair na armadilha
preparada em 64 pelo Alto Escalão fascista do Exército Brasileiro e pelos
imperialistas norte-americanos. A esquerda revolucionária brasileira deve
abraçar em seu programa de revolução o nacionalismo brasileiro sim, pois foi
historicamente dirigido pelos comunistas e pelos patriotas antiimperialistas;
deve-se tomar de volta esse termo “nacionalismo”, uma bandeira histórica da
esquerda que foi tomada pelo fascismo de 1964!
Esse mesmo golpe fascista de 64
se apoderou de duas palavras que na época eram as palavras mais ditas pelos
esquerdistas, revolucionários e comunistas, a seguir: revolução e nacionalismo.
É compreensível a repulsa de setores da esquerda devido a essa apropriação
pelos militares fascistas – fascistas que se apoiaram no termo
"nacionalismo" para golpear o povo brasileiro, estabelecer um governo
antinacional, reprimir os movimentos sociais e entregar nosso país às mãos do
capital estrangeiro. Mas, se a esquerda revolucionária não aceitou abrir mão do
termo "revolução" por causa disso, e ao contrário, mostrou como o
golpe nada teve de "revolução", então porque aceitar abrir mão do
termo nacionalismo, que foi historicamente revolucionário e progressista no Brasil?
Ao contrário, devemos igualmente mostrar ao povo brasileiro que a direita nunca
esteve interessada em defender nossa pátria do imperialismo e por isso nada tem
de nacionalista; e mostrar que o golpe de 64 longe de ser nacionalista, foi na
verdade uma traição nacional – logo, antagônico ao nacionalismo. E partindo
desta linha, e reconhecendo que o patriotismo e nacionalismo foram pautas
históricas da esquerda e da revolução brasileira é que devemos defender sim as
raízes históricas das lutas do povo brasileiro; devemos defender, em todos os setores
progressistas da sociedade brasileira, e com convicção e certeza, que o
nacionalismo brasileiro é revolucionário! Mostrar que a esquerda está sim
preocupada com a nação e com a pátria, em seus interesses nacionais e contra
qualquer mão estrangeira imperialista que queira nos dominar – pois isso é o
nacionalismo brasileiro. Somos, hoje, verdadeiros continuadores da luta
nacional e patriótica iniciada em 1920 pelos levantes tenentistas, levada a
diante pela ANL em 1930, seguindo em frente pelas reformas de base de João
Goulart em 1964 e ainda firme durante as lutas patrióticas contra a ditadura
militar e a dominação norte-americana no Brasil. Os golpistas fascistas de 1964
e a direita fascista não conseguirão se apropriar indevidamente da bandeira patriótica e
das cores que foram levantadas pelas lutas históricas do povo brasileiro; muito menos conseguirão se apoderar das pautas nacionalistas que, no Brasil,
historicamente foram revolucionárias e contra o nacionalismo burguês, contra a dominação dos ianques. E assim devem seguir.
Foto de protesto contra o fascismo, contra o golpe e ditadura militar-fascista e contra a dominação imperialista no Brasil. |
- Victor Bellizia