quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Grampos e monitoramento no Brasil, e um discurso vazio e sem "práxis" de Dilma na ONU

Há sempre oportunidade para mentir, e quando um político mente é para se eleger. O Brasil, como sempre, abriu a rodada de discursos na 68º Assembleia da ONU na terça-feira, em 24 de Setembro. Cheia de pompa e confiança, Dilma falou muito dizendo pouco e menores foram as verdades.

Depois de todas as formalidades discursivas, ela partiu para o que todos sabiam que aconteceria: a polêmica da espionagem. Com verdade, a presidenta disse os fatos, que não podem ser mudados, e demonstrou sua desaprovação, logicamente. Mesmo sendo digno de descrença que a presidência brasileira tenha levantado a cabeça o suficiente para declarar insatisfação e denunciar um ilegalidade óbvia, mas não se pode se dar  por satisfeito com o discurso.

Além de pingar formalidade forçada com, segundo suas palavras, "uma nação amiga" - nação esta que, comprovadamente, espionou a própria presidência e setores econômicos cruciais e nunca escondeu ter objetivos econômicos antagônicos a qualquer economia emergente - a presidente usou seu lindo discurso para enaltecer as conquistas reformistas brasileiras. Porém, ao mesmo tempo em que preza a privacidade de sua própria equipe de conselheiros e ministros e de empresas brasileiras aproveitou a viagem ao bastião do capitalismo financeiro para fazer marketing de privatização - sim, privatização e não concessão - de estradas, ferrovias, portos, aeroportos e, olhem só!, campos de petróleo. Sendo que a Petrobrás foi um alvo estratégico da espionagem americana. Onde está a congruência em exigir a privacidade de setores econômicos importantes e embrulhar nossas maiores riquezas e privatizá-las a preço de banana para empresas estadunidenses, que muito provavelmente foram beneficiadas com a espionagem dos EUA?

Junto a isso estão as sugestões puramente normativas da presidente para resolver o problema da espionagem. Suas sugestões esperam demais da ONU, que sabemos que não fará coisa nenhuma, e estampam seu gosto aos "estímulos ao setor privado". E ela nem por um momento considerou a estatização das comunicações brasileiras para controlar e proteger o tráfego de dados brasileiros, somado a isso está o péssimo investimento em tecnologia e defesa internacional militar. E se dá por satisfeita com os míseros royalties dos barris de petróleo para a educação e saúde. E esse dinheiro ainda será aplicado em um fundo financeiro, sujeito a oscilações especulativas de um capitalismo podre e em crise.

Uma das poucas coisas aproveitáveis de seu discurso foi a evidente estratégia de barganhar um assento permanente no Conselho de Segurança e a crítica, ao mesmo conselho, sobre a questão palestina (embora com pouca ênfase).

O Brasil está tão perto de garantir sua soberania econômica, militar e comunicativa realizando privatizações de poços petróleo, permanecendo com o setor de comunicações totalmente desregulado e com agentes estadunidenses influenciando livremente as ações da polícia federal quanto a ONU está de acatar das gentis sugestões da presidenta Dilma para descentralizar as comunicações internacionais.

- Lucas Carvalho