Isso
não só prejudica a união da classe trabalhadora brasileira, mas também desvia
sua atenção dos problemas e contradições do capitalismo, fazendo-os acreditar
que os mais pobres estão nessa condição por que não batalharam o suficiente e
não mereceram. Mas o povo esquece que há gerações eles batalham, trabalham
horas por dia, e continuam na mesma condição.
Outro
sintoma do crescimento econômico, e que fomenta a ilusão da classe
trabalhadora, são as pequenas melhorias que alguns conseguem, como por exemplo,
o carro novo que se compra, a geladeira paga em mil prestações, a TV de plasma
de ultima geração, isso os faz pensar que estão numa situação financeira
favorável, os faz acreditar que agora são parte da tão sonhada "classe
média", então se acomodam numa zona de conforto tão grande, que esquecem
que trabalham 5 ou 6 dias por semana pra ganhar um salário que será penhorado
no dia seguinte, para pagar dívidas causadas por essa mania de consumo, e que
fará falta na hora da aquisição de itens mais básicos.
Não
vejo mais as pessoas comuns exercendo a luta de classes, elas não veem o patrão
como antagonista, elas veem o patrão como modelo a ser seguido, alimentam a
esperança do dia que elas serão o patrão. Não querem mudar o sistema, querem
crescer na carreira e ficar ricos, então acham que quanto mais se esforçarem,
mais perto estarão do objetivo, pra alguns pode ser até verdade, mas e para o
resto? É claro que existem aqueles que não se iludem, simplesmente vão junto
com a maré, mas ainda são muito passivos com a situação, e essa passividade é
um grande problema. O Brasil passou sem muitos transtornos pela ultima crise do
sistema capitalista, embora o crescimento tenha diminuído e continue
diminuindo, nós não passamos pela mesma onda de desemprego e caos financeiro que
os países europeus, e isso contribuiu para fortificar a névoa que hoje cega a
classe trabalhadora no Brasil, fazendo com que se acredite que o sistema aqui é
eficaz.
Acredito
que os estadistas brasileiros acharam a formula do "capitalismo
perfeito" jogando a classe trabalhadora num torpor, numa ilusão sem
precedentes, e o pior é que no fundo o trabalhador comum sabe que é tudo
mentira, que o sistema é parasitário, que o patrão o explora, mas continua se
agarrando na cultura mesquinha a qual são expostas desde cedo.
É
preciso que a esquerda brasileira se una e perceba de que a nossa luta
prioritária atual deve ser pelo despertar da população, tirar-lhes desse sonho
que os cega e atrapalha a conquista do objetivo comum, que é o fim do sistema
exploratório capitalista. É importante que os nossos movimentos cheguem e
agitem a população comum, que hoje vive numa apatia sem fim, e para isso nós
precisamos cessar as disputas políticas dentro do nosso próprio movimento e
trabalhar juntos pelo mesmo objetivo.
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Daniel Santos Mont’Serraint