Ainda que utilizando este debate como norteador, ele não representa a única vez que trotkistas (ou anti-stalinistas em geral) reproduzem tais linhas de raciocínio errôneas. Esse texto tem por função apenas de organizar argumentos e fatos que desmentem certas linhas de raciocínio proferidas por certos anti-stalinistas.
Vários
marxistas-leninistas, defensores do legado de Lênin e de Stálin, reconhecem que
houve uma forte máquina de propaganda política em torno de líderes
revolucionários, que reforçavam a admiração que o povo soviético já os tinha
por eles. Isso é fato, tanto para Lênin quanto para Stálin. No entanto, essa
admiração (ou mesmo o culto à
personalidade, se preferirem) que
ocorreu na URSS, resistiu por anos, e ainda resiste na Rússia, mesmo depois de
décadas da morte de Stálin e Lênin. Lênin é tão querido entre o povo russo, que
numa pesquisa sobre aprovação percentual, ainda, após praticamente 90 anos,
teve 55% de aprovação. Stalin logo atrás, na mesma pesquisa percentual, teve
50% de aprovação. Uma quantidade significativa. [1]
A
explicação comumente usada por anti-stalinistas é a de que “independente do resquício de admiração a
Stálin, que o povo russo tem do mesmo, isso não provaria que a gestão de Stálin
foi correta e positiva”. Alegam que isso não prova que Stálin não foi um “genocida fascinora”, “ditador burocrata”, nem “todo poderoso” da União Soviética. O
discurso normalmente utilizado por anti-stalinistas para alagarem tal afirmação
gira em torno de frases como: “A máquina
de propaganda do Partido Comunista soviético sob a gestão de Stálin empreendeu
uma imposição de culto à personalidade tão forte, mas tão forte, que faz com
que o povo soviético até hoje tenha resquícios das tais práticas de “impor
adoração” ao ditador Josef Stálin”. Para muitos anti-stalinistas essa
afirmação é suficiente para utilizada como um verdade.
Anti-stalinistas
(normalmente os declaradamente de direita, mas alguns “de esquerda” também),
costumam fazer equiparações das figuras de Stalin e Hitler: “Stálin e Hitler foram igualmente ditadores e
genocidas, inclusive Stálin matou mais do que Hitler. Tal como Hitler foi
prejudicial ao proletariado alemão, Stálin foi prejudicial ao proletariado
soviético”. Então pegando um gancho nestas equiparações, o exemplo poderia
ser utilizado também para o ditador nazista Adolf Hitler, afinal, a máquina de
propaganda nazista era muito mais forte do que a máquina de propaganda
soviética.
O
culto à personalidade era instituído de forma agressiva na sociedade alemã. Mas
e se falarmos: “A forte adoração que se
tem a Hitler entre o povo alemão nos dias de hoje, é resquício da forte máquina
de propaganda nazista, que impôs tão fortemente a adoração à Hitler, que até
hoje, boa parte do povo alemão, o admira”... Essa afirmação pode ser feita,
mas ela não se baseará numa verdade. Por quê? Pois, bem, o fato é que
comprovadamente, uma parte considerável do povo russo nos dias de hoje, ainda
admira Stálin (50%, para ser mais exato), e isso são afirmações de fontes
confiáveis (Instituto Levada Center, de Moscou, que realizou a
pesquisa/estatística de maneira plenamente imparcial) [2]. Diferentemente,
Hitler é rechaçado pesadamente pelo povo alemão. Defender o nazismo ou Hitler
nos dias de hoje, mesmo que de maneira discreta e/ou “enrustida”, é motivo para
você perder certo crédito com a sociedade. Se você concorda comigo nisso, mas é
um dos tipos que tenta equiparar Stálin à Hitler, você se encontra numa equação
com uma incógnita sem resposta.
Mas
é fácil desconstruir e refutar tal linha de raciocínio. O problema não é a
“incógnita da equação”, o problema é que o anti-stalinista caricato “formula a
equação” de maneira errada.
Os
anti-stalinistas de direita, e até os “de esquerda”, desconsideram inúmeros
fatores para se aprofundarem neste tema. Os primeiros fatos que eles desconsideram
é: 1) O povo não é um receptor de informações passivo plenamente ludibriável,
2) a máquina de propaganda soviética não tem superpoderes, nem poderes
atemporais, 3) e nem os dois juntos. Os outros fatores que desconsideram são:
1) contrapropaganda à Stálin, ou a pesada propaganda anti-stalinista.
O povo como receptor passivo, e a
“propaganda stalinista toda poderosa” [3]
O
que seria isso? Vou explicar. Por esta linha de raciocínio: que considera que o
povo russo só tem esse alto índice de admiração à Stalin por conta da máquina
de propaganda do Partido Comunista da época de Stálin, ela acaba reforçando a
inverdade de que os povos são receptores passivos de qualquer propaganda
político-ideológica.
Esse
tipo de alegação sustenta afirmações como a de que: “A propaganda falou, o povo escutou. O povo é um recptor passivo que é
moldado por um emissor todo poderoso. O que o emissor diz, o povo absorve e
pronto”.
Vou
expor o problema deste tipo de inverdade: De fato, na relação de propaganda e
povo, o povo de fato é um receptor de informações de ideologia disseminada pela
propaganda. O problema é que o “receptor” digere a informação de diversas
maneiras e tem sua própria experiência da realidade. Exemplo: Se a comida está
horrível, é complicado esperar que o povo, que consome tal comida, vá aceitar a
propaganda como a realidade, porque o povo vai contrapor as duas coisas (a
realidade que ele experimentou e a propaganda que ele assimilou).
É
só ver através da história o fracasso e o desgaste inútil de certas tentativas
de doutrinação, especialmente no caso de ocupações estrangeiras. Podemos citar
o caso da colonização do continente americano por parte dos Europeus. Índios
que mais foram dizimados do que convertidos às concepções ideológicas e
culturais do homem branco europeu da época.
Essa
mentalidade dualista, funcionalista, que muitos anti-stalinistas tem (incluso
aqui os “de esquerda”, incluindo vários trotkistas) que alegam que: “O povo russo admira o legado de Stálin, não
por saldo positivo, mas porque eles receberam uma “educação stalinista” e
“doutrinação anti-trotkista”.” Isso abre precedente para afirmar que o povo
russo só admira Stálin, e com ele seu legado, porque não conhece “a palavra do seu “salvador”, Trotsky”.
Independente disso, como já foi aqui exposto, o povo não é uma massa totalmente
moldável. Há alguma razão concreta (que não a propaganda) para a memória de
Stálin ser um tanto positiva, se não ela já teria sido corroída, e toda sua
popularidade estaria na lama (e não com um saldo tão considerável como está
hoje).
Outro fator que anti-stalinistas
desconsideram: A propaganda anti-stalinista!
Bom,
no que concerne a afirmação de que “a
popularidade de Stálin se mantém só porque a propaganda stalinista foi muito
pesada” (como se a propaganda nazista fosse bem leve), eu acabei de
apresentar argumentos na sessão anterior do texto, desconstruindo esse
funcionalismo que prega que o povo é um receptor passivo, e a propaganda um
emissor todo poderoso. Mas há outros pontos que podem derrubar as intenções de
afirmações como essa, de que “Stalin só é
popular nos dias de hoje, por conta da propaganda stalinista de outrora”. A
outra questão que vou apresentar agora é mais fácil ainda de compreender.
Se
os anti-stalinistas alegam tanto o poder grandioso ao emissor ideológico, a
propaganda política e etc., porque o inverso, por eles, não é considerado?
Se
a propaganda, o “emissor”, é tão poderoso assim, ele pode ser igualmente
poderoso no que concerne a propaganda negativa. Como já falei anteriormente, a
propaganda não tem o poder de nos forçar a acreditar em algo contrário da
realidade (apesar de nos tentar empurrar para tal em muitas situações). Então
já não parto dessa linha de pensamento. Mas se a propaganda tem algum poder de
prestigiar a imagem de algo, ela tem o mesmo de desprestigiar; inclusive de
líderes revolucionários. E se houve propaganda política em prol de Stálin,
houve mais ainda em prol de que sua imagem fosse colocada por água abaixo. E
não houve propaganda negativa de Stálin apenas na Rússia, havia no mundo como
um todo.
Se
a propaganda partidária da URSS sob a gestão de Stálin é critério para
deslegitimar a balanço positivo que o povo russo atribui à Stálin, porque a
propaganda anti-stalinista que foi efetuada não é usada para deslegitimar a “má
fama” que Stálin tem no mundo ocidental. E ainda digo mais, porque a propaganda
anti-stalinista que foi efetuada na Rússia não é utilizada pelos
anti-stalinistas para afirmarem coisas como: “mesmo com a forte propaganda contra Stálin e contra seu legado, a sua
popularidade ainda permanece considerável após décadas, gerações e anos de
doutrinação anti-stalinista”? Porque não é conveniente a historiografia
burguesa, e nem é conveniente aos ditos “de esquerda” que com ela fazem coro.
As
provas das colossais propagandas que buscam difamar o legado de Stálin e sua
figura como líder revolucionário e renomado estadista, não são poucas.
As
mesmas pessoas que falam em “educação política anti-trotkista” ou “doutrinação
política stalinista” para tentar deslegitimar a popularidade de Stálin que
ainda resiste hoje, corriqueiramente são as mesmas pessoas que desconsideram
outros “processos de educação política”. Não podemos esquecer de que quando
Krushev assumiu a direção da URSS após a morte de Stálin, o mesmo iniciou um
processo de propaganda anti-stalinista agressivo, e em muito baseado em
inverdades.
A
partir daí começa o processo de “desestalinização” da URSS e do Partido
Comunista. A ofensiva anti-stalinista foi tão pesada, que tal pauta de
“desestalinização” foi decretada para todos os Partidos Comunistas (no mundo)
daquela época que tinham mínimas relações com o PC(b)US - Partido Comunista
(Bolchevique) da União Soviética. O PCB (na época Partido Comunista do Brasil)
foi um deles (e até hoje o partido é indiretamente afetado por fatos históricos
do passado). Nesse processo de “desestalinização” na URSS, não só teses de
partido e discursos baseados em inverdades eram utilizados, mas também
difamações públicas à Stálin.
Historicamente,
podemos perceber que a partir da gestão de Krushev começa o declínio do
socialismo, da economia planificada, do partido enquanto vanguarda do povo e
etc., na União Soviética. Mas a dissolução de fato da URSS se deu muito mais
tarde. E com esta dissolução – oficial – da primeira nação socialista, vem com
ela um forte massacre da memória comunista. E isso tudo, junto com a repressão
ao povo russo nas ruas, porque se opunham a restauração capitalista [4].
Na
Rússia, inúmeras faculdades de história foram fechadas por alguns anos, e o
curso acabou por passar por uma reformulação. Os cursos de história passaram a
ser reorganizados pela Igreja Ortodoxa. Com isso, começaram a se implementar
aulas que eram praticamente “aulas de anticomunismo/anti-stalinismo” [5]. Além
disso, boa parte dos jovens destes cursos foram frequentadores da escola
dominical.
A incógnita da questão é: o
prestigio de Stálin tem como base, não a pura e simples propaganda, mas sim os
seus reais méritos!
Considerando
tais fatos, podemos entender que há uma razão concreta e material para que e
popularidade de Stálin ainda permaneça como está. O fato de Stálin ter seu
legado lembrado como algo positivo por uma parte considerável do povo russo,
não é por conta da pura e simples propaganda, mas por conta de seus reais
feitos e méritos para a construção do socialismo na URSS, e em apoio aos
revolucionários de todo o mundo. Se Stálin fosse o demônio vermelho que os
anti-stalinistas tanto pintam, não haveria propaganda que segurasse.
Inclusive,
considerando que segundo as pesquisas do Instituto Levada Center, que colocou
Stálin com um índice de 50% (Lênin ficou com 55%) de aprovação do povo russo,
devemos considerar toda a propaganda anticomunista/anti-stalinista que
prevaleceu após a restauração capitalista na Rússia. Afinal, se não fossem as
difamações anticomunistas efetuada pelos que dirigiram a restauração
capitalista na Rússia, a popularidade de Stálin estaria maior ainda.
Devemos
considerar que no que concerne a Stálin, seu prestigio passa por mais provações
até mesmo que Lênin, devido ao fato de que Lênin apesar de ser visto maus olhos
em setores da esquerda (comumente a “esquerda libertária”), Stálin é o maior
alvo de críticas de além da “esquerda libertária”, é alvo dos revisionistas,
dos marxistas mais academicistas e dogmáticos, e dos trotkistas. Além é claro
de ter sido maior alvo das ofensivas da direita política, sobretudo na época da
Guerra Fria.
Em
defesa do Marxismo-Leninismo: viva o legado de Josef Stálin!
Abaixo
o oportunismo de esquerda e direita, e o coro com a historiografia burguesa!
Stálin
vive!
Notas:
[2]
– Idem.
[3]
– Esta seção e a próxima, deste texto, são em sua maior parte, argumentos e
conteúdo oriundos do debate tratado com alguns anti-stalinistas no grupo de
debates do VàE. Informações e contribuições colocadas em comentários por André
Drumond Ortega, Pedro Marin, e colocações minhas.
[4]
- http://galeriavermelhoaesquerda.blogspot.com.br/2013/10/4-de-outubro-de-1993-russos-vao-as-ruas.html
[5]
– O termo anti-stalinismo é muito citado no texto. Ainda que se tenha uma
ênfase particular na difamação à Stálin, o anti-stalinismo é intrinsecamente
ligada ao anticomunismo, e não são coisas totalmente dissociadas, embora certas
correntes “de esquerda” tentem alegar que não.