domingo, 12 de maio de 2013

"Dialética", introdução básica

Texto do colunista Bruno Torres. O texto tem por função a introdução no entendimento sobre "Dialética" e método dialético, a apelidada "Ciência do Desenvolvimento", a partir da compreensão de alguns dos seus princípios básicos.

A dialética pode ser entendida como um "método de analise da realidade". Ela se adequa, inclusive a questões biológicas, fenômenos da natureza, e etc., mas onde mais importa utilizá-la, é como base de análise em questões, sociais, políticas e econômicas. Para facilitar a compreensão do método dialético, enumero aqui alguns dos princípios básicos da dialética, em separado, para facilitar a compreensão.

https://elosdasaude.files.wordpress.com/2012/08/poder-da-comunicac3a7c3a3o.jpg1 - "Mutualidade"

Nada é plenamente isolado.

Como método de analise, a dialética não pode olhar para os acontecimentos como fatos isolados. A mutualidade é algo presente em tudo.

As substâncias se relacionam entre si, as células dos seres vivos se relacionam entre si, os órgãos dos animais se relacionam entre si, a economia mundo a fora se relaciona entre si, e assim sucessivamente. Algo que atinja uma via respiratória minha, provavelmente irá atingir o meu pulmão, assim como algo que tenha impacto na economia dos EUA terá impacto na economia do Japão e outros países.

É compromisso daqueles que vão analisar algo dialeticamente, que não vejam um objeto de analise como algo isolado, mas sim, como algo mutual, que se relaciona com outros objetos e fatos, e que se algo influir nele influirá também nos objetos e fatos que se relacionam com ele.

2 - "Luta dos contrários"

Nas nossas analises, também devemos considerar que todo objeto de avaliação se encontra em meio a contradições internas, que podem ser chamado de “luta dos contrários”.

Em átomos, podem ser encontrados prótons e elétrons; em objetos maiores observa-se disso polos magnéticos inversos; na biologia, pode ser visto aquilo que nasce e morre, cresce e definha; na economia, observa-se as relações de produção e as forças produtivas, que uma hora a relação de produção pode estimular o desenvolvimento das forças produtivas, e em outra ele pode estimular o retrocesso ou amortecer (desacelerar) o desenvolvimento das forças produtivas.

É compromisso também, daqueles que analisam os objetos dialeticamente, que vejam os acontecimentos e objetos de avaliação como objetos que são em si, contradições internas na sua essência, ou que são frutos de outras contradições.

A luta dos contrários na economia, inclusive, acirra uma outra contradição. Após as relações de produção estiverem se confrontando com as forças produtivas isso gerará uma crise de estrutura na economia, que daí se acirrará uma outra luta dos contrários, que é a luta de classes, entre a classe dominante e a classe trabalhadora. E nessas condições, a contradição entre forças produtivas e relações de produção, é nada mais do que uma luta dos contrários derivada das contradições entre estas classes, a exploradora e a explorada, a dominante e a trabalhadora.

Na conjuntura atual, essa classe dominante é a burguesia, e a classe trabalhadora é protagonizada pelo proletariado.

3 - "O acúmulo de pequenas mudanças quantitativas, pode gerar numa grande mudança qualitativa"

Devemos levar em conta também, que as transformações, isso é, as mudanças drásticas, não ocorrem por mera vontade de uma pessoa, ou por mero acontecimento isolado. Quando uma transformação qualitativa real vem a ocorrer, é porque pequenas mudanças vinham a se acumular até chegar um patamar insustentável.

Podemos pegar o exemplo da água e do vapor. Para a água se tornar vapor, não basta esquentar minimamente por uns segundos o recipiente que contém a água, pois para ela vir a se tornar vapor, várias moléculas de água antes, tiveram que ser agitadas até a um ponto crucial, e o acumulo quantitativo da agitação de várias moléculas gera uma transformação radical, que fez a água deixar de ser água, e se tornar vapor.

Assim são as transformações sociais, as revoluções.

Por exemplo, uma verdadeira mudança qualitativa na sociedade, não ocorrerá por mera boa vontade de um político eleito, mas sim pelo acumulo de mudanças quantitativas na sociedade, isso é, pelo acumulo de eventos, que juntos permitam uma mudança qualitativa maior, uma transformação, uma revolução.

Esse ponto até recai na dualidade básica de filosofia entre "frasco" e "conteúdo", isso é, entre forma e essência. Nós revolucionários não queremos mudar a "forma" de um governo. A esquerda não deve almejar uma limitada mudança "quantitativa" na forma que se exerce o poder. Os revolucionários não almejam uma mudança nos limites da institucionalidade dessa estrutura que está posta. O que nós queremos é uma transformação na "essência" da questão, quebrando o problema fundamental, destruindo as antigas estruturas e construindo novas.

Nós não rechaçamos toda e qualquer mudança "quantitativa". Por exemplo, quando nós revolucionários nos inserirmos em mobilizações por um aumento salarial de uma categoria, em movimentos em prol da redução da passagem que os estudantes e a classe trabalhadora paga, estamos nos inserido em mobilizações que almejam mudanças nos limites dessa institucionalidade. A questão é que, assim como o acúmulo de pequenas agitações nas moléculas da água (num bem definido nível de agitação/temperatura), mudarão a essência da estrutura da água, da mesma forma, há mobilizações, que apesar de limitadas, poderão acumular forças, e cumprir um papel revolucionário na formação política dos militantes e da classe trabalhadora, que pode no final das contas, ajudar a luta revolucionária, pela derrubada dessa institucionalidade.

4 - "Nada é estático, tudo é movimento"

Uma pessoa que se compromete a analisar algo dialeticamente, também deve lembrar que ele não deve avaliar os fatos como algo “estático” (parado), pois para a dialética, tudo é movimento, tudo se mexe, nada é parado.

Os átomos tem um “tempo de vida” que os faz decair e formarem outro tipo de átomo; nossas células sempre estão em constante mudança, sua essência pode ser a mesma, mas em questões de segundos, organelas da célula já tiveram partes substituídas por moléculas que entraram nela; os seres vivos nunca estão em uma forma biológica estática, eles sempre evoluem e estão sujeitos a mudanças no tempo; a sociedade humana sempre está sujeita mudanças pequenas ou a transformações bruscas.

“Tudo é movimento, nada é estático”, esse possivelmente, é o mais importante lema que deve ser considerando em toda e qualquer analise dialética.

Tudo está sujeito ao movimento, e por consequente, está sujeito à mudança.

Engana-se aquele que diz que “a sociedade não vai mudar, esse povo luta em vão”, isso é uma analise que não corresponde a realidade concreta.

No capitalismo, essa regra também se aplica. A produção, circulação, e distribuição de mercadorias estão em constante movimento. É necessário o movimento de capital na sociedade, para que o capitalismo não quebre.

Esse é a principal razão pela qual devemos olhar os protestos e greves como “golpes” na produção de capital. Uma vez atingido esse “movimento econômico”, as relações produtivas capitalistas são golpeadas (por vezes mínimas, por vezes mais "gravemente"). A isso se deve a importância de greves e outras mobilizações para a luta revolucionária, para golpear o capitalismo em algo crucial: no “movimento”.

E é justamente o acumulo desses eventos e de pequenas mudanças, que atingem o capitalismo em pontos cruciais, conjuntamente com golpes acertados contra estruturas essenciais a manutenção da ordem (como as instituições da Polícia, Forças Armadas, etc) que pode tornar o capitalismo insustentável, e nos ajudar a erguer o socialismo científico.

- Bruno Torres