domingo, 26 de janeiro de 2014

Parasitismo imperialista e o modelo nórdico

Lenin diz: "O Estado rentista é o Estado do capitalismo parasitário e em decomposição".

Há um senso comum, principalmente na população dos países de terceiro mundo, de que os países nórdicos e outros europeus, como a Suíça, Holanda, Bélgica, etc.. são a prova de que o capitalismo pode dar certo, ignoram-se as contradições intrínsecas do capitalismo, ou  atribuem o "sucesso" desses países à capacidade e seriedade dos seus estadistas, esquecendo-se de todo o histórico de parasitismo dos países imperialistas europeus, na maioria das vezes por ignorância. 

Então, o que é o parasitismo imperialista , e qual a sua relação com o aparente "sucesso" do modelo capitalista nórdico? A resposta é simples: Estado rentista.

Bem, antes de mais nada é preciso se ter uma noção básica do que é imperialismo. Lenin, em seu livro: "O Imperialismo, Fase Superior do Capitalismo", descreve o imperialismo como a etapa final, mais avançada, do capitalismo, derivada da concentração cada vez maior da propriedade privada dos meios de produção e acesso às matérias primas. A livre concorrência , por sua própria natureza, faz com que os meios de produção, o capital e o acesso às matérias primas se concentrem na mão de um numero cada vez mais reduzido e organizado de capitalistas, pelo processo de dominação, que é basicamente a aquisição de empresas menores por outras maiores, comerciantes menores por outros maiores, afim de se doutrinar a concorrência, ao invés de elimina-la, engloba-la, fazendo assim com que todo o setor, ou boa parte dele, pertença a um grupo capitalista comum, isso é o monopólio capitalista.Assim nascem os cartéis empresariais, nos mais variados ramos da industria e do comércio, da mesma forma nasce a monopolização dos bancos.

Lenin diz sobre os bancos: "À medida que vão aumentando as operações bancárias e se concentram num número reduzido de estabelecimentos, os bancos convertem-se, de modestos intermediários que eram antes, em monopolistas onipotentes". Assim,  de meras ferramentas das empresas produtoras os bancos, ao controlar cada vez mais o capital dessas empresas, passam à agentes principais, inclusive com um poder de decisão maior que os próprios produtores. Foram essas relações bancarias que geraram a maior parte das riquezas dos países imperialistas, um caso que exemplifica bastante é o da Suíça, o que seria dela sem seus bancos?

Entendam que no começo do desenvolvimento do capitalismo imperialista, as relações entre Estado e burguesia, ou seja, aqueles que possuíam o capital e os meios de produção, era diferente do que é hoje. Nos anos finais do século XIX e começo do século XX, os Estados ainda tinham muita participação e controle sobre essas relações, muito mais do que tem hoje, com o neo-liberalismo. Isso quer dizer que os estadistas muitas vezes eram os próprios burgueses, e que a riqueza não ia exclusivamente para os patrões, o Estado sempre tinha a sua parte.

O imperialismo também tem a ver com o colonialismo, ele não para no monopólio da produção e de capital. Os cartéis e seus respectivos representantes, os Estados, lutavam ferrenhamente pela partilha do mundo, isso incluía o monopólio das relações com os países capitalistas mais atrasados, os mais tarde conhecidos como "terceiro mundo", ou seja, exclusividade nas transações comercias, mas principalmente a aquisição das riquezas daquele país pela metrópole capitalista, que exercia esse controle tanto pelas relações de mercado, empréstimos, facilidades, dividendos, etc.., como também pela força militar, como no caso da Índia e Egito  (Ambos controlados militarmente pela Grã Bretanha).

Isso funciona, basicamente, como uma luta de classes, mas a nível Estatal. Simplificando, os países imperialistas, cada vez mais na busca do enriquecimento, agiam como a burguesia, enquanto os países mais atrasados eram como o proletariado. Isso ocorreu de tal forma, que os países imperialistas começaram a desenvolver um parasitismo, tipico burguês, através das relações comerciais e, principalmente, financeiras, ja que os "países proletários" eram muito dependentes por estarem presos na teia financeira e comercial liderada pelos imperialistas. Isso, e outros fatores que se desenvolveram mais tarde devido às Guerras Mundiais, é o motivo da disparidade econômica atual, enquanto muitos Estados europeus gozam de uma situação "privilegiada", países menores, como os asiáticos menores, latino-americanos e africanos encaram a pobreza à um nível nacional.

Devemos nos ater agora exclusivamente aos Estados imperialistas que aprimoraram tanto a técnica de parasitismo, que passaram a enriquecer totalmente às custas de outros, a ponto de não desenvolverem mais as forças produtivas do próprio país, a sua industria e comercio, vivendo exclusivamente da produção dos países subordinados ou das vantagens que conseguiam devido a participação nas maquinações financeiras internacionais, exercendo o papel de credores ou banqueiros, caso da Suíça.

Sobre isso, Lenin diz : "A exportação de capitais, uma das bases econômicas mais essenciais do imperialismo, acentua ainda mais este divórcio completo entre o setor dos rentiers e a produção, imprime uma marca de parasitismo a todo o país, que vive da exploração do trabalho de uns quantos países e colônias do ultramar". Lenin se refere aos Estados que aprimoraram tanto o parasitismo, que não mais se contentam em se apossar dos recursos dos países que se submetem a eles, passando a agir como "investidores", fazendo com que o país que recebe seu "investimento" trabalhe para ele, assim os países "investidores" amarram os Estados subalternos em dívidas.

Em 1893, o capital britânico investido no estrangeiro representava cerca de 15 % de toda a riqueza do Reino Unido. Robert Giffen, especialista em problemas de estatística, estimou em 18 milhões de libras esterlinas , calculando à razão de uns 2,5% sobre um movimento total de 800 milhões de libras, o rendimento anual que a Grã-Bretanha recebeu em 1899 do seu comércio externo e colonial. Lenin completa: "Por muito grande que seja esta soma, não chega para explicar o imperialismo agressivo da Grã-Bretanha. O que o explica são os 90 ou 100 milhões de libras esterlinas que representam o rendimento do capital "investido". O rendimento dos rentiers é cinco vezes maior que o rendimento do comércio externo do país mais "comercial" do mundo! Eis a essência do imperialismo e do parasitismo imperialista!"

Mais uma vez, Lenin diz:  "Por este motivo, a noção de "Estado-rentier" (Rentnerstaat), ou Estado usurário, está a tornar-se de uso geral nas publicações econômicas sobre o imperialismo. O mundo ficou dividido num punhado de Estados usurários e numa maioria gigantesca de Estados devedores"

"Sartorius von Waltershausen, no seu livro O Sistema Econômico de Investimentos de Capital no Estrangeiro, apresenta a Holanda como modelo de "Estado-rentier" e indica que a Inglaterra e a França vão tomando também esse caráter. Na opinião de Schilder, existem cinco países industriais que são "Estados credores bem definidos": Inglaterra, França, Alemanha, Bélgica e Suíça. Se não inclui a Holanda nesse grupo é unicamente por ser "pouco industrial".

Isso tudo no final do século XIX e no início do século XX, quando as praticas imperialistas estavam se desenvolvendo, desses dias até os dias de hoje se passaram duas guerras mundiais que mudaram um pouco o panorama, algumas nações perderem seu posto de imperialista hegemônica, passando o para outros, (no caso, da Inglaterra, Alemanha e França para os EUA) mas depois da 2º Guerra Mundial, a potencia capitalista hegemônica, os EUA, dedicou muito do seu capital para que os países europeus pudessem voltar a se desenvolver de onde pararam e muito mais rapidamente! Se formos falar da Suíça, mais uma vez, teremos que destaca-la, passou as duas guerras mundiais intacta e em ambas operou como banco das potências, durante todo o século XX, a riqueza da burguesia européia passou por suas mãos, e o país utilizou isso para enriquecer e ser como é hoje.

Claro que o destaque do padrão de vida nos países nórdicos e dos países menores como Suíça, Holanda, Bélgica, etc.. é também devido há alguns fatores históricos e políticos, como a implantação do modelo social-democrata, mas o fato é que toda a Europa pratica a social-democracia que esses países praticam, mais avançada em uns, menos em outros, e a social-democracia, como capitalismo, está sujeita a perecer em crises, como na Grécia. Outro exemplo é a Islândia, um dos exemplos de país com alto padrão de vida devido a social-democracia, faliu em 2008.

Tendo em conta como funcionou o avanço do imperialismo no seu desenvolvimento, fator que enriqueceu (ainda mais) todo o continente europeu, sabemos que os países nórdicos e menores citados não podem ser usados como desculpa para o capitalismo ou a social-democracia, pois são fruto do parasitismo imperialista, que não pode ser empregado em escala global. Os países africanos, por exemplo, jamais serão ricos como os europeus, não podem tomar eles de exemplo para desenvolver o seu capitalismo, alias, se são pobres como são hoje, é devido à essa política parasitária.

Então esqueçam a Suécia, Suíça, Dinamarca, Holanda, Bélgica, Noruega, etc.. eles nunca serão a prova de que o capitalismo pode gerar bem estar para o povo, só prova o quão maléfico ele pode ser para a civilização humana.

- Por Daniel Santos Mont'Serraint.


Bibliografia: