sexta-feira, 17 de maio de 2013

Patriotismo e Socialismo

Texto do colunista Daniel Santos Mont'Serraint acerca da questão patriótica em processos revolucionários e no pós-revolução, dentro dos parâmetros de uma revolução que tem por pretenção ser precursor da construção do socialismo:

"Patria o muerte!"
— Famoso jargão do
revolucionário Fidel Castro.
Muitos comunistas se confundem quando o assunto é patriotismo. A máxima de Marx e Engels de que o proletário não tem pátria é vista por certos setores da esquerda como um significado de que todo e qualquer amor patriótico deve ser rechaçado pela esquerda. Mas esse julgamento é um erro, fruto muitas vezes de más analises conjunturais.

Lenin já dizia, que a luta proletária é a luta pela emancipação nacional. Sim, a luta contra o imperialismo, a fase superior do capitalismo, é uma luta proletária. O combate feroz contra o jugo da burguesia internacional, ou seja, contra o imperialismo, é por si só uma luta pela independência e soberania dos povos, esse combate não deixa de ser um combate patriótico, pelo solo pátrio, contra a dominação estrangeira dos grandes trusts do capital.

Então, a luta proletária se mescla com a luta patriótica. O proletariado é internacional, isso é inegável, mas deve-se levar em consideração as distinções físicas, culturais ou imaginárias dos povos. O trabalhador não pode, nem deve, ser indiferente ao país que vive, seus costumes e seus problemas imediatos e característicos, ele deve estar ciente de tudo isso e se engajar na luta pela erradicação desses males. O comunista, por sua vez, ama todos os povos, mas o seu povo é seu seio de luta, mesmo que ele trave batalhas longe de sua terra natal, como o grande Che Guevara, ele sempre levará consigo as marcas culturais do seu local de origem, e isso não é nenhum mal!

Parafraseando Lenin: "Ser-nos-á alheio a nós, proletários grão-russos conscientes, o sentimento de orgulho nacional? Naturalmente que não! Amamos a nossa língua e a nossa pátria, fazemos o máximo para que as suas massas trabalhadoras, (isto é, 9/10 da sua população) se elevem a uma vida consciente de democratas e socialistas. Causa-nos a maior dor ver e sentir a que violências, opressão e vexames submetem a nossa bela pátria os verdugos tsaristas, os nobres e os capitalistas."

Não devemos nós comunistas, desprezar o sentimento patriótico do proletariado, pelo contrário, devem utiliza-lo para conscientizar a massa sobre sua condição.

Como escreveu Fedosséiev: "Desde que o marxismo e o comunismo científico existe, os ideólogos da burguesia afirmaram e continuam a afirmar que o socialismo e o comunismo seriam incompatíveis com o patriotismo, pois que defendendo os interesses do movimento operário internacional, solidarizando-se com a política do campo socialista e democrático, os comunistas dos países capitalistas deixariam de ser patriotas. Na realidade, porém, é justamente a burguesia que espezinha a bandeira da soberania nacional, a bandeira do patriotismo, e são os comunistas que reerguem e levam avante a bandeira da luta pela liberdade e a independência dos povos — a bandeira do patriotismo — e que reúnem em torno de si amplas massas trabalhadoras de todos os países. Os comunistas, que defendem firmemente as liberdades democráticas, entre elas a independência nacional, elevam o movimento patriótico dos povos a um grau superior, e cultivam o patriotismo como uma grande força na luta pela vitória da paz, da democracia e do socialismo."

Como vamos nós, comunistas, nos intitularmos anti-patrióticos, se defendemos a independência dos povos e a construção de uma sociedade superior, justa e igualitária, que terá que enfrentar diversas provações no cenário internacional? Que seria de Cuba, se o povo cubano não amasse fervorosamente seu país e resistisse com todas as forças ao embargo assassino dos estadunidenses? Que seria da Coréia Popular, se seu povo não lutasse com amor por sua bandeira frente as ameaças imperialistas do ocidente? Que seria da União Soviética, se seus povos não se unissem sob a bandeira vermelha do proletariado, para defender a primeira nação socialista existente contra as hordas nazi-fascistas? Se hoje o Brasil fosse uma nação proletária, não teríamos que lutar com amor e afinco pelo nosso solo, pelas nossas conquistas, contra os assassinos burgueses de todo o mundo? Isso tudo é o que, se não patriotismo? Não devemos confundir o sentimento patriota, daquele camarada que ama seu povo e quer o melhor pra ele, com o sentimento nacionalista e xenófobo, tipico dos fascistas, que acham que seu povo é superior à outros. A luta pelo Socialismo é patriótica, mas não nacionalista xenofóbica, até porque seria paradoxal um comunista vendo diferença entre o proletariado internacional em relação ao proletariado de sua pátria, tão paradoxal que este não poderia ser chamado de comunista. O patriotismo não é nacionalismo, tampouco um sentimento fascista, como este.

Pois bem, depois de termos isso em mente, podemos sim dizer, que todo comunista É patriota!

- Daniel Santos Mont'Serraint


Bibliografia:

Socialismo e Patriotismo - P. Fedosséiev, 1954. [link do marxists.org em português]

Acerca do Orgulho Nacional dos Grão-Russos - V.I. Lenin, 1914.