sexta-feira, 15 de novembro de 2013

"Meu encontro com Eduardo Campos"



Fui ao Carmo realizar uns afazeres e acabei encontrando umas amigas que me lembraram que hoje era a palestra de Pilar Del Rio, a grande companheira do grande escritor Saramago. [...] Quando a palestra dela terminou, saí da tenda em busca de uma entrada lateral para ver se conseguia falar com ela, só que não achei nada. Resolvi voltar para a tenda para ver se ela ainda estaria por lá e foi quando vi um grande circulo em volta de alguém, logo pensei que fosse ela e fui ao encontro do aglomerado. Perdão a expressão, mas quando vi quem era... Quase não acreditei!


O aglomerado se deu por conta de uma entrevista, creio que ao vivo, de Eduardo Campos para a PIG[1]. Não sabia ainda o que, mas sabia que tinha que questiona-lo sobre tudo isso que esta acontecendo com quem vai às ruas. [...] Eu, por mera coincidência, estava com a camisa do Passe Livre e quando lembrei disso usei para me apresentar. Foi basicamente o seguinte: Toquei em suas costas e ele se virou automaticamente, nós dois estávamos com um grande sorriso e nos cumprimentamos com o velho aperto de mãos e comecei o dialogo:

- Boa noite, senhor governador!

- Boa noite!

- Faço parte do movimento Passe Livre, estou indo à rua por sua luta.

- Que ótimo! Eu também fui muito à rua!

- Senhor governador, o senhor tem conhecimento da criminosa repressão policial que esta acontecendo contra os movimentos sociais?

Um momento de silêncio e uma 'engolida seca' depois:

- Não, eu não tenho! Você faz parte de que partido?

- Não sou de partido, faço parte Frente Independente Popular que vai à rua em nome dos anseios do povo. Se o senhor quiser ganhar consciência sobre o que suas ordens fazem conosco, eu o estou a convidar para uma plenária nossa. Quem sabe assim você saiba o que acontece de fato na rua!

- Ah, mas nós já fazemos muitas reuniões. E tem certeza que não faz parte de partido?!

Sendo nojentamente irônico, falou algo como se devesse conhecer o partido dele. Enfim, voltando:

- Falo sério, governador! Faço parte de uma juventude que contesta essa representação política e se caracteriza cada vez mais como apartidária.

Desviando o olhar e tentando sair de perto de mim, ele retrucou:

- Isso não existe! É bobagem!

- Errado, governador, existe e cresce!

Por algum motivo - estava nervosa- citei alguma analise de Bauman, um sociólogo polonês que gosto muito e que faz uma analise brilhante dessa característica. De forma irônica, perguntei se ele conhecia!

- Sim, conheço! E você...

Ele perguntou se conhecia alguns pensadores, o que certamente creio que esperava ouvir uma resposta negativa e sair de esperto, só que ele não contava que eu realmente conhecesse todos. Aí os seguranças e as pessoas que estavam a sua volta o tiraram de lá.


Ps. Nosso belo encontro aconteceu após uma entrevista dada, então a mídia que estava por lá registrou o momento quando notou do que se tratava. Não sei como poderão usar as imagens, mas ressalto que não dei entrevista a ninguém. Depois das palavras trocadas com o Coronel [Eduardo Campos], ainda estava com esperança de encontrar a Pilar e passei mais um tempo por lá. Ela não voltou, então fui embora.

- Mylena Cristina 


Notas:
[1] - PIG é uma sigla referente ao termo satírico "Partido da Imprensa Golpista".