sábado, 2 de novembro de 2013

EUA quer fazer da Síria o que fez com a "Líbia Verde"

Originalmente publicado em Novembro na 1º edição do Jornal Impresso do Vermelho à Esquerda, o texto ‘EUA quer fazer da Síria o que fez com a “Líbia Verde” traz a tona questões de análises importantíssimas a se considerar sobre a guerra civil Síria, e os interesses político-econômicos que giram em torno dela.

A imprensa hegemônica e corporativista tem se demonstrado disposta a difamar o Regime Sírio e seu chefe de Estado a qualquer custo. Não bastando as notícias tendenciosas do passado, recentemente a mídia vem avançando muito mais que antes nas campanhas difamatórias contra a nação Síria e contra Bashar Al-Assad. Chegaram ao ponto de insinuar que Assad usou armas químicas contra sua própria população e contra os mercenários ditos “rebeldes”, mesmo que indícios mostrassem o contrário. Também omitiram o fato de que autoridades Sírias encontraram armas químicas em túneis desses “rebeldes”. As ofensivas imperialistas não cessam tanto do ponto de vista midiático quanto do ponto de vista militar, e tal como a história pode se repetir, as potências que tem interesses político-econômicos sobre a Síria, querem que a Síria, hoje governada por Assad passe por rumos parecidos com a Líbia Verde, que era liderada por Kadhafi.

Kadhafi (morto por terroristas pró-imperialistas) e Bashar Al-Assad.
Ícones do polo anti-imperialista no Oriente Médio.
O método que os imperialistas usam na Síria não é muito diferente com que usou na Líbia: Tentativas de neutralizar as autoridades do país a ser saqueado pela imprensa internacional a fim de gerar pressão dos países alinhados ao império da bancarrota, juntamente a isso, o financiamento e treinamento bélico a fajuta oposição armada.

A ultima cutucada midiática que os imperialistas realizaram foi a tentativa de golpe de bandeira, a fim de justificar uma invasão militar dos EUA, em decorrência de um suposto uso por Bashar Al-Assad de armas químicas contra a população. A imprensa alinhada com os interesses econômicos dos Estados Unidos (isso inclui a grande imprensa brasileira) seguiu no discurso e repetiu mil vezes a suposição como verdade, a suposição de que foi culpa de Assad. Mas pra isso muita coisa teve de ser omitida. Então, para se ter uma noção esclarecida dos fatos temos que lembrar de alguns pontos.

Há certo tempo, a correlação de forças dentro da Síria estava bem balanceada, e não se tinha uma nítida perspectiva de vitoriosos dentro do conflito Sírio. As disputas estavam acirradas, e o Exército Árabe Sírio resistia arduamente e com certa dificuldade contra a oposição armada, mas ainda sim, resistia. Essa oposição armada a Assad se dá principalmente com o ELS (Exército Livre Sírio) e com a Al-nusra (que é dirigida pela Al Qaeda). No conflito, em inúmeras situações esses dois grupos fazem frente, e realizam ações conjuntas. Apesar da aparente contradição, a CIA, OTAN e as forças imperialistas que alegam defender a “liberdade e democracia”, estão a defender e a financiar essa frente supostamente “rebelde”. Ao que nos consta, os EUA parecem não se importar em financiar agrupamentos direta ou indiretamente ligados a Al-Qaeda. Apesar de esses pesares, chega no mês de Maio, há cinco meses, o Hezbollah, que admite abertamente sua participação no conflito e decide colaborar com Bashar Al-Assad, mandando guerrilheiros para atuar em parceria com o Exército Árabe Sírio na resistência anti-imperialista. Após a contribuição do Hezbollah, a guerra rumou mais firmemente para o enfraquecimento dos terroristas da ELS e da Al-nusra.

A participação do Hezbollah no conflito foi uma intervenção de peso, e influenciou bastante os resultados do conflito para acarretar na situação de hoje. Graças a heroica atuação do Exército Árabe Sírio, contanto com a ajuda do Hezbollah e com os comitês populares armados, as forças terroristas foram massacradas. Devido a estes fatos, os últimos meses de conflito foram decisivos.

Por um lado o ELS, que não passa de um grupo de mercenários financiados por imperialistas, ergue a bandeira da Síria colonial, e tal como sua bandeira, luta pela recolonização da Síria pelos imperialistas. Por outro lado a Al-nusra quer implementar um regime fundamentalista islâmico  e se opõe fervorosamente ao caráter laico do governo de Assad. Um grupo “rebelde” atua pela recolonização da Síria, e o outro quer aplicar uma teocracia islâmica. Ambos grupos, com pautas reacionárias.

Como já foi dito, nesses últimos meses esses grupos vinham sendo massacrados pelas forças anti-imperialistas, e as autoridades Sírias vinham recuperando o controle de inúmeras regiões. O Exército Árabe Sírio e o povo da Síria vinham se demonstrado vitoriosos contra as forças do imperialismo, e Assad tinha plena ciência de que a utilização de armas químicas só o prejudicaria, num dado momento em que ele estava com plenas vantagens à frente dos terroristas. A quem o uso de armas químicas beneficiaria? Quem teria vantagens com esse incidente? Logicamente, os terroristas do ELS e da Al-nusra, que devido a estarem sendo massacrados, poderiam contar com a possibilidade de uma intervenção militar direta dos seus financiadores: os Estados Unidos. Caso essa intervenção viesse a acontecer, ela poderia mudar os rumos do conflito a favor dos terroristas sírios revertendo o quadro de derrotas que eles vêm passando.

Então, “coincidentemente” ela ocorreu. Surgiu a notícia do uso de armas químicas na cidade de Damasco. De fato, ela ocorreu, mas antes de acusar Assad qualquer pessoa deve se perguntar a quem esse incidente beneficiaria, e com certeza, não era ao Regime Sírio. Alguns dias depois do incidente também foi encontrada por autoridades sírias, armas químicas escondidas em túneis de “rebeldes”. A mídia internacional também não se pronunciou sobre isso. As provas materiais e os indícios apontam que tudo não passou de uma medida desesperada dos terroristas para reverter suas sucessivas derrotas.

As notícias mostram também que os mercenários não têm escrúpulos quando se trata de atingir civis: Em dezembro do ano passado mataram 16 pessoas na periferia de Damasco com um carro-bomba, e 7 pessoas mortas e dezenas de feridos em frente ao Ministério do Interior; também um engenheiro italiano que não exercia atividades políticas foi sequestrado apenas por ser estrangeiro. Tais ações só demonstram a conduta destes “rebeldes”. Em suma: “Estes grupos opositores em essência são compostos de gangues de lumpens armados e treinados pela CIA, que abriga desde bandoleiros profissionais, a terroristas islâmicos estrangeiros ligados a Al-QAEDA e mercenários saqueadores a soldo das potências imperialistas”.[1]

O regime de Assad pode ter suas contradições, mas o momento é de tensões, e os revolucionários tem o dever de apoiarem o regime, visto que atualmente, o que está em jogo não é necessariamente o triunfo de um governo revolucionário e a edificação de uma sociedade ideal, mas sim a resistência de um Regime laico e anti-imperialista que contrapõe as forças do Império, contra a possibilidade de uma recolonização ou implementação de uma ditadura teocrática islâmica (ou pior, as duas coisas juntas).

É fundamental que Assad resista, para que o que aconteceu na antiga Líbia Verde não aconteça de novo na Síria. É necessário se solidarizar-se com o povo sírio e ao Exército Árabe Sírio e seus mais de 10 mil soldados mortos – boa parte, após serem rendidos, torturados e assassinados a sangue frio – defendendo heroicamente a Síria. À eles nossa solidariedade anti-imperialista! 

- Bruno Torres 


Notas: 

[1] - do texto ‘Aumento da escalada terrorista na Síria’, de R. Dantas.