Depois de ter sido socorrido pelos bombeiros, que removeram a trava de
bicicleta que o prendia, o adolescente contou ter sido abordado por três homens
que se denominaram “Os Justiceiros” e usavam motos. Em nome da “justiça”, o
trio espancou o jovem com uma facada na orelha. Depois, tiraram a sua roupa e o
amarraram ao poste.
O Brasil mestiço e a carne mais barata do mercado
Poderia aqui discorrer sobre os vários significados da cena forte,
inadmissível e ao mesmo tempo banal e naturalizada apresentada pela foto acima.
Nossa realidade é tão perversa que não seria exagero dizer que esse adolescente
“teve sorte”. Afinal, os grupos de extermínio aqui denominados “justiceiros”
(quase sempre compostos por policiais e ex-policiais) não costumam ser tão
bondosos. Seu modus operandi é outro: matar e, se possível,
sumir com o corpo.
Não por acaso, é exatamente o perfil deste garoto, jovem e negro, o alvo
prioritário da violência no país, em uma absurda proporção de 7 para cada 10
vítimas de assassinatos, conforme já relatei aqui diversas
vezes.
Mas o sentimento de repulsa à naturalização racista da violência
dirigida ao corpo negro foi mais bem relatado nos parágrafos que encontrei
no BLOG do Controversias:
“Dia 2 de fevereiro, dia de Iemanjá. Enquanto o samba acontecia na Pedra
do Sal, a poucos quilômetros dali, no bairro do Flamengo, puseram um negro nu
preso pelo pescoço num pelourinho improvisado. Ele estava assaltando pessoas
(ou foi o que disse quem publicou a foto). Pra servir de exemplo aos pretos
ladrões. Recentemente, um caso semelhante aconteceu na praia.
Esse jovem não estava na Pedra do Sal ouvindo a alta poesia da
música negra, tomando cerveja e conversando com seus amigos sobre o trabalho do
mestrado porque tenha um delírio malévolo de assaltar pessoas, fruto de uma
natureza mais maligna ou menos humana que qualquer pessoa, mas porque não
existe espaço objetivo para dignidade e felicidade de todos no projeto
capitalista, racista e violento de país que dirige o Brasil. Sem entender isso,
não se entende nada e, facilmente, até mesmo sem perceber, se cai no colo dos
fascistas.
Não existe vacina política histórica, nada está garantido e nada está
assegurado; a humanidade se reinventa todos os dias. Repúdio absoluto e
urgência de responder isso à altura. Não pode deixar naturalizar de jeito
nenhum. Peço a todos que façam chegar a todas as organizações políticas,
mandatos, movimentos e entidades democráticas de que tenham conhecimento.”
- Douglas Belchior. Fonte: Negro Belchior