Há um senso comum, principalmente na população dos países de terceiro mundo, de que os países nórdicos e outros europeus, como a Suíça, Holanda, Bélgica, etc.. são a prova de que o capitalismo pode dar certo, ignoram-se as contradições intrínsecas do capitalismo, ou atribuem o "sucesso" desses países à capacidade e seriedade dos seus estadistas, esquecendo-se de todo o histórico de parasitismo dos países imperialistas europeus, na maioria das vezes por ignorância.
Então, o que é o parasitismo imperialista , e qual a sua relação com o aparente "sucesso" do modelo capitalista nórdico? A resposta é simples: Estado rentista.
Bem, antes de mais nada é preciso se ter
uma noção básica do que é imperialismo. Lenin, em seu livro: "O
Imperialismo, Fase Superior do Capitalismo", descreve o imperialismo como
a etapa final, mais avançada, do capitalismo, derivada da concentração cada vez
maior da propriedade privada dos meios de produção e acesso às matérias primas.
A livre concorrência , por sua própria natureza, faz com que os meios de
produção, o capital e o acesso às matérias primas se concentrem na mão de um
numero cada vez mais reduzido e organizado de capitalistas, pelo processo de
dominação, que é basicamente a aquisição de empresas menores por outras
maiores, comerciantes menores por outros maiores, afim de se doutrinar a
concorrência, ao invés de elimina-la, engloba-la, fazendo assim com que todo o
setor, ou boa parte dele, pertença a um grupo capitalista comum, isso é o
monopólio capitalista.Assim nascem os cartéis empresariais, nos mais variados
ramos da industria e do comércio, da mesma forma nasce a monopolização dos
bancos.
Lenin diz sobre os bancos: "À medida
que vão aumentando as operações bancárias e se concentram num número reduzido
de estabelecimentos, os bancos convertem-se, de modestos intermediários que
eram antes, em monopolistas onipotentes". Assim, de meras ferramentas das empresas produtoras
os bancos, ao controlar cada vez mais o capital dessas empresas, passam à
agentes principais, inclusive com um poder de decisão maior que os próprios
produtores. Foram essas relações bancarias que geraram a maior parte das
riquezas dos países imperialistas, um caso que exemplifica bastante é o da
Suíça, o que seria dela sem seus bancos?
Entendam que no começo do desenvolvimento
do capitalismo imperialista, as relações entre Estado e burguesia, ou seja,
aqueles que possuíam o capital e os meios de produção, era diferente do que é
hoje. Nos anos finais do século XIX e começo do século XX, os Estados ainda tinham
muita participação e controle sobre essas relações, muito mais do que tem hoje,
com o neo-liberalismo. Isso quer dizer que os estadistas muitas vezes eram os
próprios burgueses, e que a riqueza não ia exclusivamente para os patrões, o
Estado sempre tinha a sua parte.
O imperialismo também tem a ver com o
colonialismo, ele não para no monopólio da produção e de capital. Os cartéis e
seus respectivos representantes, os Estados, lutavam ferrenhamente pela
partilha do mundo, isso incluía o monopólio das relações com os países
capitalistas mais atrasados, os mais tarde conhecidos como "terceiro
mundo", ou seja, exclusividade nas transações comercias, mas
principalmente a aquisição das riquezas daquele país pela metrópole capitalista, que exercia esse controle tanto pelas
relações de mercado, empréstimos, facilidades, dividendos, etc.., como também
pela força militar, como no caso da Índia e Egito (Ambos controlados militarmente pela Grã
Bretanha).
Isso funciona, basicamente, como uma luta
de classes, mas a nível Estatal. Simplificando, os países imperialistas, cada
vez mais na busca do enriquecimento, agiam como a burguesia, enquanto os países
mais atrasados eram como o proletariado. Isso ocorreu de tal forma, que os
países imperialistas começaram a desenvolver um parasitismo, tipico burguês,
através das relações comerciais e, principalmente, financeiras, ja que os
"países proletários" eram muito dependentes por estarem presos na
teia financeira e comercial liderada pelos imperialistas. Isso, e outros
fatores que se desenvolveram mais tarde devido às Guerras Mundiais, é o motivo
da disparidade econômica atual, enquanto muitos Estados europeus gozam de uma
situação "privilegiada", países menores, como os asiáticos menores,
latino-americanos e africanos encaram a pobreza à um nível nacional.
Devemos nos ater agora exclusivamente aos
Estados imperialistas que aprimoraram tanto a técnica de parasitismo, que
passaram a enriquecer totalmente às custas de outros, a ponto de não
desenvolverem mais as forças produtivas do próprio país, a sua industria e
comercio, vivendo exclusivamente da produção dos países subordinados ou das
vantagens que conseguiam devido a participação nas maquinações financeiras
internacionais, exercendo o papel de credores ou banqueiros, caso da Suíça.
Sobre isso, Lenin diz : "A
exportação de capitais, uma das bases econômicas mais essenciais do
imperialismo, acentua ainda mais este divórcio completo entre o setor dos
rentiers e a produção, imprime uma marca de parasitismo a todo o país, que vive
da exploração do trabalho de uns quantos países e colônias do ultramar".
Lenin se refere aos Estados que aprimoraram tanto o parasitismo, que não mais
se contentam em se apossar dos recursos dos países que se submetem a eles,
passando a agir como "investidores", fazendo com que o país que
recebe seu "investimento" trabalhe para ele, assim os países
"investidores" amarram os Estados subalternos em dívidas.
Em 1893, o capital britânico investido no
estrangeiro representava cerca de 15 % de toda a riqueza do Reino Unido. Robert
Giffen, especialista em problemas de estatística, estimou em 18 milhões de
libras esterlinas , calculando à razão de uns 2,5% sobre um movimento total de
800 milhões de libras, o rendimento anual que a Grã-Bretanha recebeu em 1899 do
seu comércio externo e colonial. Lenin completa: "Por muito grande que
seja esta soma, não chega para explicar o imperialismo agressivo da
Grã-Bretanha. O que o explica são os 90 ou 100 milhões de libras esterlinas que
representam o rendimento do capital "investido". O rendimento dos
rentiers é cinco vezes maior que o rendimento do comércio externo do país mais
"comercial" do mundo! Eis a essência do imperialismo e do parasitismo
imperialista!"
Mais uma vez, Lenin diz: "Por este motivo, a noção de
"Estado-rentier" (Rentnerstaat), ou Estado usurário, está a tornar-se
de uso geral nas publicações econômicas sobre o imperialismo. O mundo ficou
dividido num punhado de Estados usurários e numa maioria gigantesca de Estados
devedores"
"Sartorius von Waltershausen, no seu
livro O Sistema Econômico de Investimentos de Capital no Estrangeiro, apresenta
a Holanda como modelo de "Estado-rentier" e indica que a Inglaterra e
a França vão tomando também esse caráter. Na opinião de Schilder, existem cinco
países industriais que são "Estados credores bem definidos":
Inglaterra, França, Alemanha, Bélgica e Suíça. Se não inclui a Holanda nesse
grupo é unicamente por ser "pouco industrial".
Isso tudo no final do século XIX e no
início do século XX, quando as praticas imperialistas estavam se desenvolvendo,
desses dias até os dias de hoje se passaram duas guerras mundiais que mudaram
um pouco o panorama, algumas nações perderem seu posto de imperialista
hegemônica, passando o para outros, (no caso, da Inglaterra, Alemanha e França para
os EUA) mas depois da 2º Guerra Mundial, a potencia capitalista hegemônica, os
EUA, dedicou muito do seu capital para que os países europeus pudessem voltar a
se desenvolver de onde pararam e muito mais rapidamente! Se formos falar da
Suíça, mais uma vez, teremos que destaca-la, passou as duas guerras mundiais
intacta e em ambas operou como banco das potências, durante todo o século XX, a
riqueza da burguesia européia passou por suas mãos, e o país utilizou isso para
enriquecer e ser como é hoje.
Claro que o destaque do padrão de vida
nos países nórdicos e dos países menores como Suíça, Holanda, Bélgica, etc.. é
também devido há alguns fatores históricos e políticos, como a implantação do
modelo social-democrata, mas o fato é que toda a Europa pratica a social-democracia
que esses países praticam, mais avançada em uns, menos em outros, e a
social-democracia, como capitalismo, está sujeita a perecer em crises, como na
Grécia. Outro exemplo é a Islândia, um dos exemplos de país com alto padrão de
vida devido a social-democracia, faliu em 2008.
Tendo em conta como funcionou o avanço do
imperialismo no seu desenvolvimento, fator que enriqueceu (ainda mais) todo o
continente europeu, sabemos que os países nórdicos e menores citados não podem
ser usados como desculpa para o capitalismo ou a social-democracia, pois são
fruto do parasitismo imperialista, que não pode ser empregado em escala global.
Os países africanos, por exemplo, jamais serão ricos como os europeus, não
podem tomar eles de exemplo para desenvolver o seu capitalismo, alias, se são
pobres como são hoje, é devido à essa política parasitária.
Então esqueçam a Suécia, Suíça,
Dinamarca, Holanda, Bélgica, Noruega, etc.. eles nunca serão a prova de que o
capitalismo pode gerar bem estar para o povo, só prova o quão maléfico ele pode
ser para a civilização humana.
- Por Daniel Santos Mont'Serraint.
Bibliografia:
principalmente o cap 1: http://www.marxists.org/portugues/lenin/1916/imperialismo/cap1.htm